3 de agosto de 2006

Um Pingado e Um Pão na Chapa

Às vezes quando consigo chegar cedo no trabalho, andes de subir pro escritório passo num boteco que tem perto pra tomar o se pode considerar o supra-sumo do café da manhã de botequim. Sabe aquele tipo de bar que mulher fresca nem gosta de olhar pra dentro? Sabe aquele boteco de centro de cidade em que você vê todo tipo de homem, desde o engravatado até o camelô? Sabe, aquele tipo de bar que parece, de tão comum, de tão corriqueiro e despojado de orgulho, assumir ares de instituição? Daqueles onde todo mundo conhece o atendente pelo nome, onde o dono tem cara de poucos amigos usa aquela mesma calça social cinza surrada e uma camisa de manga curta? Onde esse mesmo dono invariavelmente tem cara de português seja ele brasileiro, espanhol, alemão, ou até mesmo turco... Pois então, e num desses que eu vou.

É nesse tipo de bar que se exercita um certo jeito espontâneo, uma certa falta de cerimônia, uma desatenção aos detalhes, algo contra o qual só os muito frescos se rebelam e deixam de cultivar. Chega a ser patente, que não se trata de sujeira, nem de falta de higiene, mas de um total deapoego a qualquer tipo de salamaleques. Frescura ou preciosismo ali é proibido. Tudo é feito com um sentido de arte quase perdida. Você senta naquele banquinho redondo, de madeira polida, (na verdade gasta mesmo) e pede um pingado e um pão na chapa. Sete palavras. Sete palavras e você tem um café da manhã. O atendente grita o pedido pro cara da chapa. Esse, em questão de segundos aplica manteiga nos dois lados de um pão francês honesto e inocente, e despacha o pão sem a menor cerimônia pra chapa quente... Enquanto isso, o pingado chega, com aquela cor precisa, o copinho americano que tem a mesma cara desde sempre em cima de um pires de alumínio que não tem nada a ver com ele, e ao mesmo tempo, tudo a ver com ele. Você alcança o indefectível açucareiro de alumínio que está ao lado, adoça a gosto enquanto o pão chega. Aquele inocente pãozinho de há pouco chega tostadinho, cheirando bem e imbuído da boa intenção de te preparar espiritualmente pra encarar mais um dia de luta. E a não ser que o teu time tenha perdido um campeonato na noite anterior, o pão sempre vence. Barriga quente, vamos trabalhar.

Um comentário:

Quincas disse...

Ei, tenho uma música sobre pão na chapa, olha lá: www.sambapunk.com

Abraço!
Quincas Moreira