O trabalho corre com tranquilidade, mesclando momentos de sono, impaciência e tédio. Um arquivo teimoso insiste em dar errado toda vez que está prestes a ser fechado. Nada que um pedido de ajuda não resolva, mas mesmo assim dá vontade de deixar pra depois. O almoço é mais propício a andar pelas ruas em volta do prédio . É bom ver gente. Ainda que apenas pra comparar, medir, especular, treinar o olhar. É um daqueles dias em que se sente mais alheio de si mesmo do que seria possível. O abandono ao pensamento não impede que se vá ao banco, pagar uma conta, depositar um cheque. Claro que no caixa automático, pois esse é o máximo de fila que admite-se enfrentar. E o máximo de realidade que a sensação de flutuação no estar alheio permite sem desfazer-se.
A tarde transcorre após o almoço da mesma forma lenta, bocejando minuto após minuto. Quando se chega ao ponto de quase dormir, um copo d'água, uma conversa, um levantar da cadeira e uma olhada rápida no jornal ajudam a evitar o supremo prazer que seria esticar em qualquer lugar e tirar uma bela soneca de uma hora, uma hora e meia. Se o arquivo não desse errado com tanta insistência, certamente seria um dia mais alegre. Assisti o sol se despedir da cidade pela janela, e recebi a noite que se aproximava com certa serenidade. A cada momento esperei o trabalho escorrer para sua conclusão. O problema até foi resolvido, mas no fundo não era essa minha inquietação.
Sai por último, depois que todos já tinham saído. Tranca-se a sala... Caminha-se prazeirosamente até o ponto mais distante, pelo simples prazer de fazer o percurso de volta sentado e cochilando com abandono quase pagão. No confortável assento escolhido, chega-se a uma importante conclusão... Ir dormir tarde na noite anterior depois de ter bebido umas boas geladas, batido bastante papo e efetivamente se divertido... faz essas coisas com o dia seguite da pessoa. Pelo menos quando é meio de semana. Mas apesar de todo esse clima constatatório... Não há do que reclamar. Não mesmo. A creveja estava ótima.
18 de setembro de 2007
13 de setembro de 2007
Uma crônica sobre nada.
Ele acorda meio moído, como se saísse aos poucos de dentro de um caminhão de frigorífico que despencou ribanceira abaixo. O despertador não quer saber de nada, e continua apitando freneticamente, como uma mulher mal-comida. Sem perceber, ele passa uns 5 minutos tentando ignorar o despertador, fazendo cara de "não tô nem aí". Estica o braço para abrir as persianas e deixar um pouco de luz entrar no quarto. Olha pro lado, vê a hora. Um minuto passa no visor. O vizinho de baixo já está em atividade. O rádio ligado, tocando um pagode que nunca deveria ter sido composto, de tamanha afronta que representa ao gênero musical. Por sorte a música está em seus momentos finais. Entra a locutora da rádio, dizendo que a rádio é um amor. Ele fica com vontade de mandar a rádio, o compositor da música e a locutora tomarem no cu. Com a homeopática dose de bom humor que esse pensamento lhe traz, ele se anima a levantar da cama.
Pega uma cueca na gaveta, liga seu próprio rádio e se dirige ao banheiro. No rádio, o programa de notícias com locutores metidos a engraçadinhos. Chega até a ser divertido porque os locutores parecem tão fora de contexto que chegam a ser divertidos. É como de um cara que conta uma piada sem graça mas que não percebe que estão rindo dele mesmo e não da piada.
Banho, barba, escovar os dentes, roupa. Esqueceram de avisar que ainda é primavera, maldito clima do Rio de Janeiro. Um sol que já denuncia um calor incômodo na hora do almoço aparece, tão insistente quanto o pagode que tocava no rádio do vizinho. Ele chega ao ponto de ônibus no horário de sempre, nem muito adiantado nem atrasado ainda, dependendo da boa vontade do trânsito de qualquer maneira. O ônibus demora o suficiente para fazê-lo ficar com vontade de pegar o executivo. Mas é besteira. Pagar mais caro, por um pouco mais de conforto, mas ainda assim chegando atrasado se o trânsito estiver ruim não vale a pena.
No ônibus, ele passa pela praia. A visão de um mar que reflete o azul do céu faz com que ele quase se sinta feliz. Não que não tenha seus motivos. Mas para se sentir feliz não basta o mar refletindo o sol. Precisa só um pouquinho mais.
Pega uma cueca na gaveta, liga seu próprio rádio e se dirige ao banheiro. No rádio, o programa de notícias com locutores metidos a engraçadinhos. Chega até a ser divertido porque os locutores parecem tão fora de contexto que chegam a ser divertidos. É como de um cara que conta uma piada sem graça mas que não percebe que estão rindo dele mesmo e não da piada.
Banho, barba, escovar os dentes, roupa. Esqueceram de avisar que ainda é primavera, maldito clima do Rio de Janeiro. Um sol que já denuncia um calor incômodo na hora do almoço aparece, tão insistente quanto o pagode que tocava no rádio do vizinho. Ele chega ao ponto de ônibus no horário de sempre, nem muito adiantado nem atrasado ainda, dependendo da boa vontade do trânsito de qualquer maneira. O ônibus demora o suficiente para fazê-lo ficar com vontade de pegar o executivo. Mas é besteira. Pagar mais caro, por um pouco mais de conforto, mas ainda assim chegando atrasado se o trânsito estiver ruim não vale a pena.
No ônibus, ele passa pela praia. A visão de um mar que reflete o azul do céu faz com que ele quase se sinta feliz. Não que não tenha seus motivos. Mas para se sentir feliz não basta o mar refletindo o sol. Precisa só um pouquinho mais.
9 de setembro de 2007
Porradas no baú da memória...
É engraçada a memória da gente. Às vezes a gente revira o baú e acha uns casos escabrosos e intrigantes, que quase foram fadados ao esquecimento, mas que um dia aparecem, e se mostram ainda tão cheios de mistério quanto no dia em que nos foram apresentados pela primeira vez. Do nada hoje, eu lembrei de um terrível.
Idos dos anos 80, madrugada, voltando de algum baile ou festinha, Marco, André e Demétrius, os Ferreira Brothers, irmãos mais velhos de um grande amigo meu de infância, estavam passando pela "dezesseis", uma rua comercial não muito movimentada nas madrugadas do centro da cidade. Dentre os sons da noite, puderam ouvir alguns xingamentos que uma voz masculina proferia...
-Piranha!!!!(seguido de um "ooof!")
-Vagabunda!!!! (seguido de outro "ooof!")
Diziam que o barulho parecia aquele efeito sonoro do desenho da Pantera-Cor-de-Rosa, de quando alguém estabacava-se no chão. E a cena se apresentou, com todo seu colorido Rodrigueano... Um cara desferia socos em uma mulher, ambos jovens e bem vestidos. Não precisou nem pensar, Marco deu um tapa na orelha, André meteu o pé no peito do cara, jogou ele de encontro à porta de metal de uma loja, e Demetrius enquadrou o meliante pelos colarinhos...
Fomos educados numa época em que a mãe da gente ensinava que em mulher não se bate de maneira nenhuma (tá, tudo bem, a não ser que estejamos pelados e isso seja fundamental para que ela consiga gozar, e ela peça muito... mas isso é outra categoria de bater, convenhamos).De qualquer forma, depois de devidamente separada a briga, o André já amparava a moça. Era loira, bonita mas estava quase verde por conta do socão no estômago.
-Que porra é essa, meu irmão? Tá maluco? Batendo em mulher?
-Me larga, maluco! Me larga que eu vou matar essa filhadaputa - esperneava - o doido.
Mais um pescoção e ele acalmou um pouco. Mas não parou de falar.
-Eu peguei ela na nossa cama com o nosso padrinho de casamento! Na cama! Eu mato essa filhadaputa!
Os Ferreira Brothers cansaram de ser compreensivos e já procuravam um jeito de chamar uma patrulha da polícia, enquanto pensavam se davam ou não mais uns tapas no vagabundo, quando decidiram que um corretivo pro mané não cairia mal enquanto a polícia não vinha pegar o pacote. Eis que depois de umas bolachas, ouve-se finalmente a voz da moça... já meio recuperada do trauma:
-Não bate nele nãaaaoooooo!!!
Empurrou os três pra longe do agressor... Ao som de um "mas que porra é essa?" que algum dos Ferreira Brothers (provavelmente o André) disse, o argumento definitivo:
-Pára! Pára! Larga ele!!! "Eu amo ele"!!! "Eu amo ele"!!! "Eu amo ele"!!! (sic)
Entreolharam-se os Ferreira Brothers, o inimaginável "eu amo ele" ecoando na noite. Largaram o cara, desanimados. Deram as costas e foram embora, como se nada houvesse acontecido. Desistiram de chamar polícia também. Nunca conseguiram chegar numa conclusão a respeito, mas algumas vezes eles suspeitam de que quando estavam quase virando a esquina, ainda conseguiram ouvir na distância, um "oooof" abafado. Vai saber, né?
5 de setembro de 2007
Um dia de Gato
Hoje o Vira-Latas ficou de rei... Foi almoçar no St. Peter's Market em Nikiti City, pra acompanhar a mana e o cunhado americano pra comerem "a melhor sardinha que já comi" (palavras do gringo)...
Antarctica Original, a já tradicional sardinha do mercadão... irretocável... isso pra abrir os trabalhos. Depois, um pampo grandão, em postas com arroz e pirão. Uma pimentinha esperta, e a sequência da cerveja. Fechou! Ô almoço bom... coisa de gente grande. Aproveitei a moleza da mana e do cunhado estarem pagando e paguei uma porção extra de sardinhas pra levarem pra nossa mãe lá na serra... Ela gosta muintcho... desde a primeira vez que veio aqui...
Daí, foi isso... Cheguei em casa, liguei o ventilador, e chapei igual sucuri que comeu boi...
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