9 de setembro de 2007

Porradas no baú da memória...


É engraçada a memória da gente. Às vezes a gente revira o baú e acha uns casos escabrosos e intrigantes, que quase foram fadados ao esquecimento, mas que um dia aparecem, e se mostram ainda tão cheios de mistério quanto no dia em que nos foram apresentados pela primeira vez. Do nada hoje, eu lembrei de um terrível.

Idos dos anos 80, madrugada, voltando de algum baile ou festinha, Marco, André e Demétrius, os Ferreira Brothers, irmãos mais velhos de um grande amigo meu de infância, estavam passando pela "dezesseis", uma rua comercial não muito movimentada nas madrugadas do centro da cidade. Dentre os sons da noite, puderam ouvir alguns xingamentos que uma voz masculina proferia...

-Piranha!!!!(seguido de um "ooof!")
-Vagabunda!!!! (seguido de outro "ooof!")


Diziam que o barulho parecia aquele efeito sonoro do desenho da Pantera-Cor-de-Rosa, de quando alguém estabacava-se no chão. E a cena se apresentou, com todo seu colorido Rodrigueano... Um cara desferia socos em uma mulher, ambos jovens e bem vestidos. Não precisou nem pensar, Marco deu um tapa na orelha, André meteu o pé no peito do cara, jogou ele de encontro à porta de metal de uma loja, e Demetrius enquadrou o meliante pelos colarinhos...
Fomos educados numa época em que a mãe da gente ensinava que em mulher não se bate de maneira nenhuma (tá, tudo bem, a não ser que estejamos pelados e isso seja fundamental para que ela consiga gozar, e ela peça muito... mas isso é outra categoria de bater, convenhamos).
De qualquer forma, depois de devidamente separada a briga, o André já amparava a moça. Era loira, bonita mas estava quase verde por conta do socão no estômago.

-Que porra é essa, meu irmão? Tá maluco? Batendo em mulher?
-Me larga, maluco! Me larga que eu vou matar essa filhadaputa - esperneava - o doido.

Mais um pescoção e ele acalmou um pouco. Mas não parou de falar.

-Eu peguei ela na nossa cama com o nosso padrinho de casamento! Na cama! Eu mato essa filhadaputa!

Os Ferreira Brothers cansaram de ser compreensivos e já procuravam um jeito de chamar uma patrulha da polícia, enquanto pensavam se davam ou não mais uns tapas no vagabundo, quando decidiram que um corretivo pro mané não cairia mal enquanto a polícia não vinha pegar o pacote. Eis que depois de umas bolachas, ouve-se finalmente a voz da moça... já meio recuperada do trauma:

-Não bate nele nãaaaoooooo!!!

Empurrou os três pra longe do agressor... Ao som de um "mas que porra é essa?" que algum dos Ferreira Brothers (provavelmente o André) disse, o argumento definitivo:

-Pára! Pára! Larga ele!!! "Eu amo ele"!!! "Eu amo ele"!!! "Eu amo ele"!!! (sic)

Entreolharam-se os Ferreira Brothers, o inimaginável "eu amo ele" ecoando na noite. Largaram o cara, desanimados. Deram as costas e foram embora, como se nada houvesse acontecido. Desistiram de chamar polícia também. Nunca conseguiram chegar numa conclusão a respeito, mas algumas vezes eles suspeitam de que quando estavam quase virando a esquina, ainda conseguiram ouvir na distância, um "oooof" abafado. Vai saber, né?

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